"Uma figura chega a casa/ Com a dose semanal de auto-estima/ Distribui-a entre o frigorífico e os armários/ E verifica que a maior parte dela/ Se perdeu entre o supermercado e a casa" (Boaventura de S. Santos, Escrita INKZ)
Tento guiar-me pelo lema: vai, atravessa sem pressa; o qual, para os que acompanham a narrativa, com todos os “aos passos”, já está virando repetição, eco. Explico que essa quase gagueira não necessariamente seja disfluencia ou interrupção de um fluxo que pretende ser de informações, mas também de sentimentos, perspectivas, buscas e, muito provavelmente sobretudo, de sonho. É irresistível. O aroma desse sonho mexe com meu estômago e deixo tombar as fileiras dos dominós. Por isso às vezes me assusto, principalmente quando um dos dominós sou eu. Hoje pela manhã, a exemplo do processo, por motivos cotidianos que atropelam a todos nós e que vem assim batendo palminhas leves e rapidíssimas gritando vai vai vai..., pensei na pontezinha, como quem recorre a uma imagem de um santo e não reza, e atravessei como quem passa por um lamaçal e não se suja. Obviamente isso é possível (!) na esfera da imaginação. Pois quem é que consegue atravessar na paz um ônibus superlotado? Ou então uma noite de sono tranquila estando a mãezinha doente? A fúria da natureza e de alguns humanos? Eu não sei...não sei... E é dessa maneira que nem sempre vou levando os desdiálogos entre minha mônada-andamento e minha mônada-cão.
Um comentário:
Demonstração dos privilegios de se manter sã, querida
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