bem-vindo/ bienvenido/ welcome


30 janeiro, 2008

Mas pra que te contar

Ah,
Se eu estivesse
Num desses avarandados
Numa dessas praias pouco visitadas
Com o corpo torto
No tecido duma rede,
Ou o corpo torto
No tecido da canga estendida na areia
Pouco vento, pouco sol,
E os seus livros a mão.

Depois,
Se eu pudesse
Guarda-los
Na mala, na bolsa
Ou joga-los

E então,
Eu chão,
Você, verso torto em mãos,
Cuidadosamente tateado.

Ah
Se...Sei
Nós
Não seremos
Palavras, tempo, medo, prosa.

Por enquanto,
Imprimo correspondências
Pra fazer mural no corredor

06 janeiro, 2008

Antes

Antes que vire o jogo e a mesa e a carta e a cara
Antes que vingue as horas
Antes da escuridão
Da audição
Da mão na mão
Do mano a mano
Antes do intento
Não deixe o tempo perceber você
Passe suas camisas
Ajeite a gola
Use tom sobre tom
Esfregue a cozinha
Compre copos plásticos
Eu não quero mais cacos no chão
Arrume a casa
Para fazermos novamente as bagunças
Que sempre sobressaíram as nossas promessas de decoração

São os depois implanejáveis que dão aos antes gostos irresistíveis.
Nunca saberemos se tiveram mesmo os sabores inesquecíveis.

Querido Pareto,

Dentre todas essas vantagens e desvantagens que o homem se impõe diante da forma econômica de organização social, percebi o que disse. Existe um equilíbrio lá no infinito, onde tudo que eu ganhei eu perdi, onde tudo que eu perdi eu ganhei. Lá, nos somatórios, um ponto tal que, tendendo e tendendo, me coloca no eixo que anula tudo, um eixo tal que, compensando pelas preciosidades, não me faz dar um passo, um passinho fora do nulo. Lá, continuar significa o nem mais nem menos, o não perder e o não ganhar também. Sem os dois lados da moeda. E se as Economias não lhe forem fazer falta, e se não lhe faltarem ou sobrarem sentimentos, lá, eu gostaria que me encontrasse. Quero tomar lições. Entender como os movimentos humanos rompem o equilíbrio. Saber dos ótimos e da indiferença. Quero saber assim... como mulher cheirando lavanda de atacado. Depois varejo. Velejo e me arejo.

Percebi seus olhos

Pois se me fala:
- Interessantes seus assuntos.
Com paciência eu ouço o resto da sua análise,
Mesmo pensando:
-Salta do púlpito, senhor da observação.

Pois se as escalas, de medir, são para validar o pensamento próprio,
Donde não vem a sua superioridade, também não vem a minha.

Pois se o seu eu, acima do talvez, não convence o meu,
Já não quero saber os porquês.

Pois se me coloca como líquido em tubo de ensaio,
Saio, ou explodo em seu laboratório.

Corações libertos

Conheci um gênio que não sabe o que é o amor
Passei de pena a pavor em segundos de conversa
Eu tentei ouvir mais
Eu tentei falar de coração
Eu mostrei o horizonte
Mas o marca-passo do tempo
Deixou espaço para uma despedida
Sem abraço sincero
Sem beijo molhado
Sem graça
Uma despedida repleta de faltas
Falta de interior
Algo que ninguém aprende sem querer
Mas que se apreende descuidadamente
Quando o ouvir é desarmado
E as falas são desinteressadas
E as conversas se encaminham por descaminhos
E os descaminhos por estradas
Pelas quais somente um velho coração
Sabe trilhar, sem medo de se entregar...
Carências de todo um mundo
As quais somente a sabedoria de um coração farto de vida
Sabe suprir, sem medo de se perder...

Viés

Não sei se o amor
Não sei se a lógica
Sei eu hoje, no viés da divisa

Nem tanto ao sonho
Nem tanto a mim
Nem tão anil ou ao ponto

Desde que me falte a ciência
Não me falta nada
Todos os dias estão prontos

Bem doce

Suando pra perceber
Regionalismos
Tempos individuais
Escolhas intertemporais
Cheiro de gente
Desodorante pra todos os poluentes.

Quero um tanque de caldo de cana
De todos os canaviais...