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31 agosto, 2010

primeiro a criança perguntou o que é: árvore

 "Lo único que queda del encuentro es la seguridad de que los adultos no tenemos la menor idea sobre el verdadero significado de las palabras" (Gabriel Garcia Márquez)

primeiro a criança perguntou
o que é: árvore
depois, o que é: fruta
depois, o que é: vitamina
e fez uma sequência de perguntas
até chegar noutra
que foi virando rima


o que é essa coisa
a memória
onde é que ela mora
por onde é que ela ia
vir a ser poesia
ou ter um e outro ai
e pra onde é que ela vai
é desprovida de lugar
ou tem cantinho certo
um lar
quanto tempo longe
quantos metros perto
tem tamanho
tem idade
que parentesco tem
com a saudade
é filha, ou é pai


a memória, criança minha,
esse recurso humano,
e de outros seres vivinhos,
que nos faz recordar
outros passados anos
é como um cofrezinho
em que guardamos o que aprendemos
tudo o que vivemos
desde pequenininhos


uma história é possuir memória
outra, é o poder de lembrar


há até um sujeito
de nome Paulinho
que canta assim, na viola:
meu filho tome cuidado,
quando eu penso no futuro
não esqueço o meu passado...


o agora: é um presente!
e essa coisa, a memória
por estar grudada e costurada,
é impossível ser evitada
na construção do amanhã,
na escolha em ser o mocinho,
ou, criança minha, o malvadinho....
e o verbo escolher, menino,
é deixado de fora por muitos memórias,
não se esqueça.

26 agosto, 2010

...traremos

ser intruso
em terra ousada
a qual abre portas
e um acordeon inteiro
tantas vezes quantas mandar o tango
onde até no silencio há passos,
pernas coreografadas
em oito trançados tempos
mais longos que o tempo
da já mais que ensaiada semana

ser intruso...
posso sair pela rua oferecendo-a nada
 dinheiro, nada!
mulata, nada!
músculos faciais rígidos, imóveis

ganhando inexistir o virtual
na aula de desvendar

elementos da natureza...
extensão das humanidades...
é contato, e sabemos


sempre trará prazeres
sempre trará desgostos
trará, trarão, traremos...

13 agosto, 2010

admirável




FOME





   Romance FOME de Knut Hamsun, de 1890.
Título do original norueguês: Sult.
Tradução de Carlos Drummond de Andrade.
Editora Delta, Rio de Janeiro, 1963.

Ilustrações de G. Lambert.



"Traços semelhantes, bem humanos, e ainda outros, em vez de debilitar, reforçam a impressão causada pelo conteúdo clássico da narrativa. Dissipam a apreensão que poderíamos sentir ao ver o ideal cintilando a expensas da verdade; garantem a sinceridade do desenho, a verdade das imagens e dos personagens. O que encerram de humanidade geral não escapa a ninguém. A prova está no acolhimento que esta obra encontrou em povos de língua, caráter e de costumes diferentes. Além disso, pela leve tintura de humor sorridente, que o autor põe nos traços mais tristes de sua narrativa, ele próprio nos mostra como se compadece da natureza e do destino humanos. Ao narrar, porém, não se afasta nunca da mais completa serenidade artística. O estilo despojado de vãos ornamentos capta com segurança e clareza a realidade das coisas, e aí vamos encontrar, sob forma pessoal e vigorosa, toda a riqueza de tonalidades da língua materna do escritor" ( trecho retirado do discurso de recepção pronunciado pelo Dr. Harald Hjarne, no dia 10 de Dezembro de 1920, por ocasião da entrega do Prêmio Nobel de Literatura ao escritor norueguês Knut Hamsun, por sua obra Os Frutos da Terra.)  




"Posso deter-me de novo para escutar o murmúrio da floresta. Serão ondas do Egeu, a sussurrarem a meus ouvidos? Será a torrente Glima? De tanto ficar assim a escuta, sinto-me enfraquecer; assaltam-me recordações de minha vida, milhares de alegrias, músicas, jogos e flores. Nenhum esplendor é comparável ao murmúrio da floresta, a esse balanço, a essa loucura: Uganda, Tananarive, Honolulu, Atacama, Venezuela..." (Knut Hamsun)